sábado, 1 de março de 2014

A música já berrava nos ouvidos dos adolescentes inconscientes, o coração já vibrava fortemente sob o efeito do álcool e a loucura já se tinha instalada pelo bar inteiro. Mascarados com as mais diversas fantasias, vestindo esses ridículos fatos numa tentativa desesperada de deixar de parte as suas míseras vidas.
Ela estava vestida de hippie na mesa do canto e ele de vampiro, do outro lado do bar, mas os seus olhares estavam constantemente a cruzar-se por entre a multidão que vibrava ao som da música. Suplicavam um pelo outro, desejavam-se incondicionalmente. Numa tentativa de fuga, ela decide levantar-se e sair do bar. A lua cheia brilhava sobre a noite de inverno, e o frio ar gelava as mãos dela enquanto levava o cigarro aos seus lábios carnudos, até que sente a presença de alguém atrás de si. O coração parou. O vento parou. A respiração parou. O tempo parou. Os olhares dos dois estavam agora tão próximos como à uns meses atrás, e sem pronunciarem uma única palavra, ela atirou-se aos braços dele e ele beijou-a ferozmente. A saudade tinha-os consumido de tal forma, que sem permitirem que os seus cérebros pensassem, entregaram-se um ao outro. Permaneceram assim por minutos, até que ela se afastou. Atirou o cigarro para o chão e voltou para dentro. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Valentine's Day

Sinto o ar da tua respiração no meu desnudado pescoço, sinto o bater do teu coração no meu quente peito. As lágrimas derramam-se pela fria e pálida face como cascatas ao longo do rio e agora, envolvida nos teus musculosos braços, sinto-me novamente viva, ressuscitada. Olhas-me com esses teus doces olhos, beijas-me com esses teus suculentos lábios, os nossos corpos novamente juntos e os nossos corações novamente comprometidos. Tão próximos, tão unidos, tão loucamente apaixonados e repentinamente, o beijo torna-se irreal e o toque inalcançável. Acordo. Não passou de um mero sonho. Fica assim, apenas o arrepio no meu desnudado pescoço e a saudade no meu gélido coração. 
Happy Valentine's Day.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

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Bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal-m... as pétalas caem sobre a água como pedra no meu peito, a chuva cai fortemente sobre o lago, assim como o meu corpo cai levemente sobre a terra. Sinto a molhada areia nas minhas gélidas mãos, sinto o cheiro à terra fresca, sinto o bater desesperado do meu coração que suplica mais uma vez para que me deixes. Fecho os olhos e congelo. O mundo parou e apenas te vejo a ti, tão longe, mas tão perto. Os nossos olhares perfuram-se mutuamente... tanto por dizer, mas nada para dizer, tanto por fazer, mas nada que fazer. Tão depressa te sinto em mim como tão depressa os meus sentimentos se transformam em repulsa. Tão depressa te desejo como te afasto. Tão depressa te amo como te odeio. O mundo parece continuar parado, mas não, afinal sou eu que estou petrificada, sou eu que continuo parada no tempo, sempre iludida com os nossos fatais olhares.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Diamante

O vento sopra com força sobre o meu trémulo corpo. Estou calçada com os antigos sapatos de pontas que costumava usar no ballet. Já estão apertados, mas mesmo assim tento manter o equilíbrio. O vento bate agora com mais força, numa tentativa de me derrubar, mas eu permaneço intacta, com o olhar sempre fixo no horizonte. Começa agora a chover, inicialmente são apenas pequenas gotas de chuva, mas em milésimos de segundo, o pequeno transforma-se numa tempestade torrencial. Sem mexer um único músculo, o meu corpo permanece como estátua. Os dedos dos pés começam agora a sangrar, mas a minha expressão facial não demonstra um pingo de dor. Ali estou eu, parcialmente indolor, parcialmente inderrotável. Interiormente tão frágil como grafite, mas exteriormente tão forte como diamante.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014


Vejo o reflexo desta dócil rapariga através do espelho, tão perfeita que se torna irreconhecível. Do nada, o dócil transforma-se em frio, e o frio transforma-se em quente. Este repentino metamorfismo, leva o meu pensamento a fundir-se com o reflexo, e então... lá estás tu do outro lado do oceano, intocável e inaudível. Olhas me com esses teus fatais olhos, desejas me com essa tua incontrolável loucura. Não é amor é apenas um puro desejo. Mas deste lado do oceano, as lágrimas escorrem, o amor permanece e o desejo incontrolável de que o tempo volte atrás torna-se cada vez mais forte. Tu não sentes. Eu sinto. Tu não sofres. Eu sofro. Tu vives. Eu já morri à muito tempo.